Melancolia – O Reino que Criei

Descobri na noite algo que, de certa forma, alimenta minha solitude.
O silêncio que admiro tanto também é encontrado
E ele me acalma… ele me ilude,
Pois os espíritos que evacuam meu corpo gritam…
E minha própria alma repudia minha existência

                                                             – intensamente abalada.

Vejo sombras! Vejo a escuridão em tudo…
Não há luz, meu sol é negro…
Tudo que tenho são lágrimas e dor.
Sou enigma, sou criação do medo
Que eu mesmo criei.

                                                             -Não tenho nada, nem a mim.

Desejo encontrar a chave para todas as portas que me compõem.
Desejo viver normalmente e alegremente, como faz a maioria.
Desejo sair do labirinto que criei dentro de mim
E me libertar dos pesadelos que sempre me acompanharam.
Por fim, desejo estar livre do pior espírito… aquele que não me abandona:

                                                             – eu mesmo.

Globalização

A globalização não cria uma linguagem universal.
Não da forma como alguns pregam.
É certo que a influência imposta por todos, seja na cultura,
Na política, religião, etc
É indispensável, inerente à forma como vivemos – em rede.
Mesmo assim, uma linguagem universal única é mito.
As linguagens regionais e nacionais se mantém,
O que muda é que, ao passo que há o resguardo de tradições,
É deixada de lado a visão da mesma.
Por exemplo, possuímos costumes,
– Somos os supostos donos do futebol.
Ao passo que outros países desenvolvem isso,
Vamos perdendo esse prestígio mundial, mas não o costume, a tradição.
Ainda somos os donos do futebol, mas as pessoas deixam de ter essa visão
Sobre nós.

A globalização não cria uma linguagem única.
Ela cria formas de se conectar.
Ela cria novos jeitos de se ambientar
Ao Novo Mundo – a era das redes.

Ponto de Vista

Nada existe
Tudo é símbolo
Para descrever conjuntos.

Se sou eu mesmo, sou por causa do que me compõe
E não sou, simplesmente, por ser algo.
Se sou algo, sou uma série de coisas,
Criando assim um infinito que nos apõe.

Estrada Vazia

Às vezes olho pela janela e penso: queria ter um amor.
Chego a imaginar e a sentir tudo o que é amar,
Mas não tenho alguém…
Estou sozinho.

Continuo divagando com meus olhos e não encontro outrem.
Não há pessoas na imensa estrada que chamo de coração.
E ainda assim, há espaço para todo o mundo.
Há espaço para amar, simplesmente, dentro do amor ardente
Que o amor guardou em mim.

Trovões Em Mim

Os trovões da noite ecoam em meus ouvidos
E não consigo escrever.
Se pelo menos pudesse me prevenir,
Se pelo menos pudesse me concentrar…

Os trovões são multidões,
São as palavras que jogamos pro alto
E nos esquecemos de buscar.

Trovões em minha mente…
Será que são trovões?
Será que o que ouço realmente soa?

Os trovões da noite ecoam em meus ouvidos
E não consigo escrever.
Se pelo menos pudesse pensar
Nas coisas belas que poderia criar…

Poética da Revolta

Política deve ser um tipo de brincadeira que, depois de feita,
É esquecida até a próxima vez de brincar.
Os seres que se tornam politizados em cada eleição
São subordinados aos líderes, que são os organizadores da diversão.

Todos riem no final
E todos estão muito bem,
Obrigado.

II

Escrevo poemas sem título

Para que alguém se identifique
E atribua o nome que desejar.

Escrevo versos vãos
Para que alguém os modifique
E ache algum significado.

Escrevo pouco
Para que acabe logo,
Antes que percebam
Que o que escrevo
Sou eu em palavras.

I

É muito fácil encontrar um amor.

Difícil é encontrar um verdadeiro,
Um que valha a pena.

É muito fácil livrar-se da dor.
Difícil é perder parte de si mesmo
E construir um novo eu depois.

É muito fácil encontrar-me.
Difícil é encontrar-me por dentro,
Em meio a tantas portas fechadas.

III

Não sei se amo de verdade.
Quando sinto que amo,
Tudo é uma mentira inventada por mim.
Sou um exemplo do Fingidor – o poeta Pessoa.
Sou um exemplo de indecisão e de enigma:
Não sei o que sou, nem se sou
E quando acho que sou,
Deixo de ser.

Anticonformismo

Luto pelas causas que causam tanta esperança em mim.
Muitos temem que eu tenha sucesso,
Outros torcem por meu esforço.

– Se um dia tudo der certo, que bom.
Se não, uma pena…

Prefiro a tentativa
– Refuto a abstenção.

Fluxo

Os anjos lúgubres me envolvem enquanto escrevo a poesia que consideram poesia.
Não estou sozinho em minha sala, cozinha ou quarto.
Sou apenas uma alma guiada por outras
E sou apenas mais um, seja quando vivo, seja quando parto
Em busca de alguma coisa que alimente minha melancolia.

Realmente, encontro o que preciso nesses anjos, que não são uma crença,
Encontro um abrigo e companhia… eles me suportam em meio à solidão.
Não temo e não há o que temer,
Apenas quando lhe fazem de bobo, enganam-lhe
E tudo o que prezam é ver-lhe sofrer.

Quando querem, fazem com que a agonia sufoque nossos corpos cheios de mágoas.
Eles querem nossas lágrimas e nossa dor! Querem que nossa depressão tome total controle
De tudo o que somos e tudo que desejamos.

A MORTE!
Sim, a morte é a vida disfarçada por asas!
Esses anjos nos observam enquanto comemos e cantamos,
Enquanto estamos usando o computador…
Mas ignoramos, sem perceber, a horrível presença deles!

Quando querem, fazem-nos sofrer, sem dúvida.
Queimam nossas memórias, nossos sentimentos mais bonitos
Para que se alimentem… para que vivam em nossos medos e ilusões.

Nunca estamos sozinhos, afinal.
Somos servos da diabólica e infernal companhia de nossos amigos mortos.
Eles estão por aqui sim! Eles querem derramar o sangue que tanto anseiam!
Eles querem a VIDA, coisa que não sabemos se usamos direito.
Não para eles… eles querem que nossos corpos ardam no fogo do inferno
E façam deles seres eternos – seres dignos.

Os anjos tortos, que me invadem em minhas horas de agonia, desfalecem-me
E corroem-me por dentro e já não sou como era antes…
Sou um deles…
Sou mais um que mata pela vida…
SOU MAIS UM LOUCO QUE PERMEIA O FLUXO DA MELANCOLIA.

E mesmo depois de tudo,

Continuo parte de um sonho.

Desimportância

O Homem não pensa
Não de todo
Não vê fora de si.
Quando pensa
Ou tenta pensar
O Homem não enxerga
Que só pensa
Para desconstruir
O que construiu.
Filósofos
Sociólogos
E demais pensadores
Investem suas vidas
Para tentar fazer
Com que
A sociedade
Invista em soluções
Para problemas
De caráter
Antropológico
Enquanto o resto desfruta
Da suposta
Desimportância,
Que é atribuída
Por eles
A tudo.

Poética do Mundo

A tecnologia roubou minha criatividade
E, sob seu efeito, passei a viver do ócio.
A música não mais ecoa pelas salas que guardo em mim
E a poesia já não é lida ou escrita por minha mente.

Não tenho tempo, pois tempo simplesmente não há.
Não encontro as pessoas, vivo ocupado
E quem sofre? Eu, em primeiro lugar,
Depois, vem minha imaginação.

O que tenho criado?
Como tenho criado?
Como fazer as pessoas refletirem?
Como fazê-las atribuir um poema a suas vidas?

Fiz-me político, fiz-me poeta e humanista,
Nada adiantou, todavia.
Não penso, não crio!
Sou um fantoche a serviço de qualquer um.

Sou a cara da negligência,
Sou fruto de minha impaciência e hiperatividade.
Levanto a bandeira dos pragmáticos
– Sou nossa moderna sociedade.