esquecível

cá os cortantes e frios vendavais
os trovões
os grilhões arrastados
vagalhões e tufões assustados
ao fechar de pálpebras que sonham
mar calmo nas areias da memória.

meus olhos salgados
marejados no esquecível fluxo das águas
avistam estranhas naus familiares
que anunciam o sempre-norte
do que imerge ao desconhecido.

no entanto ao longe, o sibilo noturno
sob o luar e no colo das ondas
castiga a escuta oposta ao trabalho:
ouve em pranto o doce canto:
dorme o marujo em planície abissal:
foge a ninfa, com seu baú naufragado
e, ao céu, erguido o corpo em sal.

certa vez disse à mãe
: “pintarei a parede!
de azul bem clarinho
e com fita embolada
e estrelas coladas
o céu, meu todinho”

sozinha ela riu
e como mãe era
falou bem sincera
o que se seguiu

: “fitas são fracas, filho
e não vão se fixar”

tomei distância
fitei a obra frustrada
no peito nas mãos de menino

sem céu
a galáxia perdida numa lágrima

Amor

versão realista:
 
Todos o vêem, mas ninguém o ama,
assim todo o Amor agradece.
E seu olhar, como, do peito, a chama,
me fode, me engana e encarece.

O silêncio da alegria e a flama
esvaziam o peito, que perece
e se estende ao coração e proclama
a dor que surge e não desaparece.

Tudo pulsa, é cretino e infeliz,
e os corações que somente o observam
residem sob o véu desolador.

Pois para o que ama o coração diz,
em quietas vozes que se completam:
“não existe esse negócio de Amor”

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versão “romantizada”


Todos o vêem, e tudo o ama,
assim todo o Amor se engrandece.
E seu olhar, como, do peito, a chama,
me captura, me encanta e resplandece.

O silêncio da alegria e a flama
o preenchem e avivam feito prece
que se estende ao coração e proclama
amor que surge e não desaparece.

Tudo pulsa, tudo é vivo e feliz,
e os corações que somente o observam
residem sob o véu desolador.

Mas para o que ama o coração diz,
em quietas vozes que se completam:
“entrega-te ao sonho! Vive do Amor!”

justiça

a saber o que se viu:
mundo todo em festança

com confetes, logro e brio
inicia-se esta dança

tchá tchá pum e pum tchá tchá
tão ao norte e à esperança

vem Faria pra Limar
o salão em abastança

e às palmas e cantares
toca o sino da bonança

tchá tchá pum e pum

pá! pá!

o faminto em vingança