afogaram-me incessantemente
em segredo
pedras sombrias se ocultaram nas sombras
mas me disseram que elas nunca ali haviam
afogaram-me em suas poças de existências rasas
e jamais atestaram meu silêncio
mas a violência em pedras veio
em segredo
o pano foi passado no sangue desbotado
que pollockeou de minhas insistentes
preocupações e agonias
limite para bondade não se mede
se impõe
o que se quer dizer?
raízes e amarguras enraizadas se aprofundaram
no solo infértil
os frutos que colhi foram frutos?
colheita desperdiçada injusta maldita
jamais me escondi
até mesmo quando estive no precário submundo de mim
envolto por imundícies causadas por outrem e por mim
a mim
estava revelado
o que disse desdito
o que tive destido
o que pensei
invadido e invertido
engasgaram-me pelo desgosto
da perplexidade
só extraio frustrações
espero em meio à neutralidade segura
portanto
impuseram a espera do inominável
humanidade é resto de rastro a ser eliminado
disseram-me o homem enforcado
e enforcaram-me pelo apelido
mal sabiam que eu mesmo
já havia me enforcado há muito tempo
Mês: dezembro 2018
auto erosivo
antes da palavra
toda palavra me foi compelida
arbitrárias e desunidas
fogo e cinza surgiram
à angústia incontida
antes do poeta
houve alegria
o silêncio se alastrou
e o incêndio ensimesmou
tudo que aqui existia
na beira da ruína
que pode fazer um verso
de pródiga origem?
diante de mim
soergue-se a poeira
que desenxergo
e a poesia que disseram existir
não era senão minhas
retinas
poeta poeta poeta
apaga-se a chama
e autoproclama
um status que nada diz
pisoteia significados
e todas as estrofes
sangram feito fagulha
perfuraram-se e se esqueceram
do estrago
engasgo e engasgo ainda
estou desolado
estendiam e se entupiam de brilhos
a opulência e suntuosa existência
pareciam aurora alheia
esfaqueando suas foscagens
o que resta resta pouco
poema torpe de poeta eloquente
que ainda treme suas mãos e soluça
sua mísera voz para recitar seu verso
insignificante