Escrevo pelo desprazer de escrever angústias. Para atribular meus leitores. Para atribuir ao descaso razão de ser: a tristeza é, por vezes, vista como algo intocável, algo a ser evitado, mas, ainda sim, é parte da vida.
Absortas em velhas e revelhas tentativas de descrever a dor que sinto, o mundo que me cerca, o amor que me contamina e engrandece, as ideias esparsas de um escritor difuso e abissal parecem ser trazidas e traídas pelo inferno. Fim. Um novo começo. O desgosto do convívio amoroso, o isolamento próprio e familiar, o esquecimento de amigos outrora tão queridos… Não. Já não me fazem falta. Talvez tenha me esquecido, eu, da solidão. Talvez tenha extravasado tudo em lâminas e cicatrizes… e os poemas lunares se perdem no âmago solar do sofrimento contíguo.
Fracassamos, é verdade, e, enquanto humanos, erramos e não medimos o valor do erro. Ainda me encontro preso a uma fase melancólica de escrita. Fui laminado, fatiado em pequenos fragmentos que agora se perdem nas mentes alheias. Cada um como pecinhas de um quebra-cabeça que se encaixam com mais de uma peça. Cada peça – outra, sem ser minha – transformando meus pedaços de nada em alguma coisa. Essa fase, a da tristeza, pode até ser confundida com depressão, o que seria muito bem aplicável no meu caso. Porém, a diacronia de meus versos, a temporalidade e anacronia de minhas palavras (que só são anacrônicas porque tendemos à simplificação) são somente parte de meu maior objetivo: não ter objetivo.
Ainda, minha agonia acompanha o sofrimento.