recriar o que exista é reticência engasgada no peito mouco, soluçante, embebido em soluções entorpecentes, opioides, antidepressivos cachaceiros, violência gratuita no canal 50.000, afasia no encontro com o melhor amigo e a pessoa companheira. as aspirações de alguém como eu, tão ínfimo e cheio de mim, lamentando-me em pixel vazio ou exaltando-me em forma forjada, é roupagem para quê? no ápice da inexistência, somente as linguagens podem salvar o mundo – dizem, atordoados de tanto verso incompreendido, de reprodução de subjetividades estranguladas, tão ávidas por ser e não ser, pela fama e anonimato, pela vida e pela morte, desejo e prazer, angústia e calmaria… idealismo? não sei até que ponto é possível o escapismo ao que-seria, e da poesia nada se extrai senão aquilo a que já se estava condicionado, afinal não haverá leitores de versos longuíssimos e enigmáticos ou experimentais e herméticos – como queiram, há quem se ofenda -, no fim das contas, o que há por trás do que se avalia é espelho em fragmentos autoproclamados, kintsukuroi de si, autorremendo frouxo que amanhã substituirá o remendo do outro num copo de cólera e culpa, de arrependimento e mais fragmentação, misturando bíblia, rivotril e budweiser. é possível prever futuros, frutos, fundos do poço, fumos cósmicos de púrpura tonalidade de deuses humanóides de misticismo barato e eloquente enganação? humano-trator, rolo-compressor que tudo abraça – abraço rápido, apressado, enojado, frio, esquecível – vinde a mim em seus encantos! enquanto o mundo escorre de meus dedos, esqueço-me que quem o segura é quem meus olhos não abandonam.