Minha Boêmia

Caminhava com as mãos soltas tateando bolsos rasgados,
e igualmente meu casaco se tornara virtual.
Oh! Como amara meu sonho ideal;
Oh! Como sonhara com a época em que não havia estado.
Em minhas calças encontrei um enorme buraco,
pelo qual avistava minha ébria perna desajeitada
cantar os passos de minha face trejeitada
e do imenso odor, do intenso frescor, das pernas tortas do tabaco.
Ficava a ouvir as rimas que eu mesmo recitava
para o amor que, até então, minha secreta e simples sedução
mentia que vivia; mentia que sorria; mentia que sonhava.
E as sombras fantásticas que rimavam decassílabos com oração
se dissolviam à medida que minha poesia se desintegrava
– enquanto badaladas surtiam efeito em meu triste coração.

Silencioso

Mulheres cantam canções desesperadas,
crianças e a frescura nos olhos da manhã,
eu… eu escrevo a melancolia que arde em seus peitos.

Por estradas de sangue e o frescor do crepúsculo,
caminho, triste, impetuoso, violento,
em meio ao silêncio que me veio e vem:

Um silêncio que se perde na treva,
no entanto, parece ser o que,
por enquanto, chamo de solidão.

A arte da conversação

Minha existência não se resume mais em busca pela sabedoria da vida, dos livros, das conversas e dos amores. Agora, todavia, se resume ao ócio, ao tédio, ao silêncio, à sincronia com as diacronias de meus versos, à melancolia, à dramaticidade, à morte e à própria vida. Tenho um corpo que não comporta todos meus sonhos, e, por ser inválido, deixo de realizar todo o onirismo que me cerca. Tenho uma mente que não comporta toda a minha imaginação, e, por ser deveras imaginativo e reflexivo, não penso, não imagino, deixo de refletir. E por que faço isso comigo mesmo? Por qual motivo me cerco de impedimentos, de barreiras, de desculpas e preguiça? Talvez seja apenas uma longa fase. Um processo sobre o qual evito comentar, escrever, relatar. Minha existência se resume à poesia, à música, às artes em geral, além do que já foi citado. Mas a histeria que se desempenha de minhas obrigações já se torna estridente, contundente, radiante, dissidente… e minha. E o amor se esvai. Foge de minhas mãos e não tenho interesse em correr para alcançá-lo. Não tenho vontade de correr atrás de alguém. É preciso ter alguém? A solidão me parece tão atraente vista frente a frente. Autoestima se eleva de outras formas. E a minha… Bom, a morte também me parece atraente. Viver é superestimado. Ninguém sabe como é morrer para que haja tantos pontos negativos a acrescentar em sua vida. Acho o silêncio a arte da conversação e a maior forma de aprendizado que se tem numa relação. Aprende-se a ouvir, a falar, a se conter, a sentir e refletir. A morte é repleta de silêncio.

Um dos logros de amar, sem dúvida é ter-se refletido
nas características de quem se ama. 
Mas a ausência… ah, sua ausência… vivo escondido
pensando em versos para descrever tamanho sofrimento.
E sofro, ainda, por não tê-la por perto.
Porém, sofro por não saber amar, visto que amor é liberdade.

Longe de mim sua ausência se torna iminente.

Mas ainda ajo como se respirasse a meu lado,
a cada instante, eternamente, colorindo minhas 
entranhas desbotadas, desassombrando minha
calada mente, que aqui escreve um poema falho,
entregando palavras de amor à monarca de meu 
eu, ao amor que já parece distante, às pessoas que
habitam minha dúbia e doente imaginação.

“Eles não existem”, ele diz,
enquanto cria paraísos irreais
– e, o que foi que fiz?
foi me livrar dos materiais.

ensombraremos a agonia
quando o homem renascer da cegueira.
e o corpo que, aqui, antes morria,
agora cria dos Céus uma fogueira.

Teu coração já pulsava cintilante, e, em si mesmo, verde e rosa, radiante, por ter encontrado a Beleza em sua forma mais tenra e livre: a ocular. Teus olhos resplendiam cerúleos e esmeráldicos universos de radiações. Espantavam os males; refletiam as sombras; desejavam – e desejavam em demasia – ser um breve canarinho que pousa em seus dedos contente, incisiva e apaixonadamente, mas que retém toda a felicidade em um vôo melancólico, triste, histérico, e nos deixa apenas saudade. Saudade.

To Laura

Laura is in the light of thought.
Though I smile my love to her,
and though the smiles that tints
the words I write, the eye that
blinks the verse I might
call a poet in love,
she’s only a dream I dare to dream.

Os anos passam feito vento

os anos passam feito vento,

a vida confunde-se em garoa,
uma mancha de tinta chora 
em minhas roupas surradas:
meu coração acamado respinga
lágrimas de solidão e devaneios
enquanto os versos que escrevo
tornam-se minha dura realidade.
a morte, que desce às sombras
de minha leviana e vã existência
acossando e cercando os meus
singelos e imutáveis sentimentos,
está cada vez mais próxima, amor,
está cada vez mais próxima.
está cada vez mais
mais próxima.
os anos passam feito chuva,
a vida confunde-se em garoa,
uma mancha de tinta chora
em minhas roupas surradas:
poemas declaram meu amor
por ti e por teus sentimentos,
somos iguais e, por isso, nos 
amamos como ninguém.
o narcisismo peca por ser
perfeito para nossos espelhos;
o siso, o tino, a reverência…
todos são produtos da perfeição…
os anos passam feito vento,
a vida confunde-se em garoa,
uma mancha de tinta chora
em minhas roupas surradas:
só há teu amor para calar a solitude
que resvala em meu ego ardente;
só há teus olhos para cegar as sombras
e vazios que encontro em minha mente.
poemas declaram meu amor
por ti e por teus sentimentos;
mas já estou envelhecido…
a morte a mim aguarda.
porém, quero que sigas amando
a poesia que amamos, o silêncio
que desfrutamos e a beleza que 
tanto admiramos juntos.
quero que vivas enquanto eu a espero,
enquanto teu amor floresce, enquanto
teus olhos vêem e descobrem o mundo
que há além de nosso imaginário.

Você faz, apenas vivendo, com que eu viva,
sem desejos, sem lamentações, sem expectativa
de um cenário confortante ou deveras inundado
de serra, de talho… pelo amor adornado.
E, você mesmo, olhe meus pulsos chorando lágrimas
repletas de hemácias, amargura e melancolia.
Não é comum cantar a simples, tenra e pura poesia
com tanta dor e sentimento expostos. Não dá mercado.
São apenas memórias de um poeta em crise… angustiado.
Em apatia, em amor, na derrota e na glória,
escrevo meus poemas de miséria e vitória,
mas ninguém lê. Afinal não interessa.
E, se leem, no final, demonstram pressa
e a mensagem que quis passar passa a ser perdida.

E se o amor que aqui escreve
se tornasse pálido, amargo e seco
por conta de toda a melancolia
e desatino que jaz em viver?

E se o amor que aqui escreve
fosse encerrado, e, consigo, sutilmente
resvalado por toda a agonia
que reside em viver?

Teu

Quando, dos mais tenros e doídos sentimentos,
meu amor se erguer, lembra-te que te amo
e que teu coração permanece guardado
em meu próprio e sentido peito.

To Laura

Leaves of grass sweep my revoked and lonely heart
And the stainless feeling I get is everybody is alone.
Under and beyond my ego, trauma is enhanced;
Reckless torments and all my misery invoke
A love that starts to grow.