Alvo, sereno, límpido, direito,
Segues radiante, no esplendor perfeito,
No perfeito esplendor indefinido…
“Sonho Branco”, Cruz e Sousa
existe pele alva e pele alvo
“Ismália”, Emicida
na terra, quem manda é alvor.
tudo é tão branco…
e quando saio de casa,
aprendo que o mundo canta
desafinado:
significados diferentes para o mesmo significante.
tudo aqui é alvo…
minha história, minha voz
meus julgamentos.
por que ter orgulho de qualquer coisa
se o orgulho é que me fez ferir assim?
por que amar a suposta Luz
se é com ela que ao outro firo,
tamanha clareza do pensamento?
lamentável: há alvo do alvo.
sei que dizemos sermos iguais
enquanto te enforcamos o pescoço
vendo teus globos piscando às nossas negras retinas.
Julgamos, ali, serem nossas camadas retintas
até que teus olhos se encerram
e a lobotomia social em que te criamos castra nossa já turva visão.
naquele recinto, naquela cama
morre um símbolo
e parte de nós morre consigo.
mas se não posso falar sobre X ou Y
sou eu um símbolo do símbolo que criei?
na terra, quem alva é rei…
a cicatriz naquela pele
embora negra, é branca.
as páginas daquelas histórias, embebidas em sangue
embora brancas, são negras.
tudo é tão branco, e de nós a alvura exala.
em nossas vistas abomináveis, permanece
o tempo ido, negado e maldosamente revisto:
para o presente dos alvos – impedimento à alforria;
para o presente dos alvos – tudo ainda é bala…
sinhá i sinhô chicote tronco horrô senzala