não adianta

vivi de tristezas
inventadas na forja de outrem
fui cliente cativo, bebi de seu arsenal

aos pouquíssimos que ali hesitavam
perfumei a vida sem sentir aromas
jamais apurei este olfato apático

me entreguei à fragrância doce
do expurgo de mim
vivi o que pude, mas nada poderei

o bem-intencionado belicismo
abraçado para sempre com teor fraternal
facilmente encrusta… e a mim facilmente deturpou

vivi mãos de pianista… disseram ser
mas não vi talentos… nunca soube enxergar
além do que enxerguei com visão turva

da tua, outrem, descendi certo existir
mas viver cansa muito… muito

melhor partir.

e parto… e estes cacos jamais se recompõem
jamais, hesitantes, admitem suas lamúrias

num aceno, soluçam alegrias quebradiças
lampejam e lampejam e então engolidos
se rebatem e urram e choram e desistem

vivi incertezas
e pela primeira vez estou certo de que sou outrem

morro um eu lacrimoso e morro um erro humano
choro sangue incolor e me desboto sem mais resistir

adeus, mundo cruel
o vazio depois de meu vazio me espera.