Sonho de Ícaro

entendia a persistência da memória
eu dizia
repetia
que fenecer pictórico seria
estético
narrativo
história e contemplação
rota corrigida
ícaro e alegria.

então, entendi a persistência da memória
eu dizia
repetia
esquecida e sem magia
vida que flui e deságua em monção.

talvez entenda a persistência da memória
tempo escasso, relógio inerte
sou eu meu próprio cronos
meu titã e olimpiano

enquanto ícaro em rasante no horizonte acena
(sob uivos e gritos, sussuros e apitos)
num voo inconsequente, minha alma mais serena.

Castelos de areia

em meu céu, cintilavam estrelas
e delas me esqueci.

era jovem; o mar, bravio
– também marola –
e a voz que propagava
não sabia o fenecer.

com o tempo, abandonei a terra
e de volta ao mar senti o vento

do nada ao rosto
do rosto à lembrança.

de lufada em lufada
o traço-rastro de mar se apaga
enquanto, no desfecho das ondas
o que deixo pra trás a areia encobre.