É óbvio, de certa forma,
que andei apático por um
ou dois tempos.
Estive estranho comigo mesmo,
e, toda vez que insistia em sorrir,
o pranto se instalava em minhas
entranhas plácidas e enferrujadas.
Foi-se o tormento, mas já não avistava
o horizonte de minha alma.
Doloroso, não? viver acompanhado
e ser deixado, perdido, na imensidão do ser
na vastidão do mundo…
Acho justo. Ninguém quer alguém ensimesmado
e depressivo rondando suas mentes
e fazendo troça de suas fúteis alegrias.
Até entendo que meu porto esteja fechado,
que minhas caravelas tenham afundado,
que meu mar, repleto de naufrágios, ainda esteja
se solidificando.
Mas não entendo… ainda não entendo o que me leva
à reclusão, o que me leva ao desespero sem motivo
e ao desvanecimento – de fora para dentro.
O mar está repleto de naufrágios, já o disse,
e ainda estou à deriva no poço de uma mente
sem esperança ou felicidade.
Infortúnios vão e vêm, mas a solidão aperta às vezes.
Não sou o tipo de pessoa que se vê feliz desbotado,
ausente ou até mesmo presente, mas sozinho.
Sou alguém, ainda, que preza pelo convívio.
Bom convívio. Boas memórias. Bons momentos.
Não os tenho, todavia.
Ah, quem sabe se não parti outrora e agora
vivo da ilusão que criei para fugir da realidade
que a mim desola?
Quem sabe se não deixei que a treva penetrasse em mim
como fazem os raios de sol à gente despreparada para
tanto sentimento?
Quem sabe, quem sabe…?