Poema Diverso

Fizeram entristecer-se por serem contrariados
pelo silêncio que ecoou na sala de estar
ao lerem os frutos de seu poema planejado
que agora dorme e deixa seus versos descansar.

Do azul do céu estrelado, à negritude das janelas fechadas,
sonhei em ver um mundo escuro e repleto de estrelas pintadas;
Sonhei em ver pessoas humanas e o homem da lua
caminhando, trazendo-me esperança a minha própria face nua.

Não fui Shakespeare ou Rimbaud, não sou Poe nem serei Neruda,
serei eu mesmo e serei pouco, por ser assim,
porque toda palavra que disser ou escrever será surda
e dificilmente variará conforme o tempo passa para mim.

E a música que soa, sua de minhas entranhas
e os acordes, os passos que dançam,
os rostos contentes, as pessoas dispersas, estranhas,
não se perdem, jamais se cansam.

Sou o poeta variante, o poeta que oscila…
sou como uma ave que plana em sua imaginação,
sou o poeta acompanhado, perdido na solidão,
sou como um repleto trem que descarrila.

Deste lado da rua, o futuro – do outro, os velhos casarões.
Daquele, as senhoras decassílabas, máquinas e cartas esparsas
penduradas, contemplando os velhos lampiões e memórias escassas;
desta juventude, eu e eu mesmo em minhas mentirosas emoções.

Que se identifiquem com minha vida aqui escrita,
que leiam e saboreiem minha poesia insalubre, irrestrita;
que cantem suas canções originais e não copiem o outro;
que vivam com alegria – para que o mundo não ganhe mais um poeta morto.

Quebra Sonho, Quebra Vida

Queria que me tivessem dito,
quando era apenas um garoto,
que viveria minha vida inteira novamente,
em minha incansável e memorável consciência.

Queria que me tivessem dito,
quando era apenas um menino,
que meus bonecos e brinquedos,
na verdade, não tinham vida
e que meus amigos poderiam virar as costas
e seguir seus diversos caminhos sem mim.

Dessa forma, as frustrações
que viveria dali em diante
seriam aliviadas
e os sonhos que sonhei sonhar
teriam sido apenas imaginação
de uma mente adulta num corpo de criança.

Rascunhos sem cunho, apenas relato

Faço uso das palavras para registrar o mundo.
Poderia ter uma obra definitiva,
mas esta se tornaria rascunho quase imediatamente.

O mundo não para e nunca permanece o mesmo,
assim como eu, minhas palavras, meus poemas
e todos os rabiscos que faço no papel.

Faço uso das palavras para registrar o mundo,
ao passo que registro a mim na poesia,
que se extinguirá como tudo a minha volta.

Observação #

… me sinto vazio como toda a merda que já escrevi
(que leram com prazer por conta de sua carência
de excelência, fundamento, sinceridade, amor e eloquência escrita)

… me sinto vazio, mas não como antes, quando achava que era e estava enganado.
era só minha mente começando a cair, começando a subir, começando a morrer

não tenho ninguém

não quero ter

q u e r o   s e r

          s ó   e u  
     e  
o   n a d a

q u e r o  s e r

s ó
        e u
  e
       o

v a z i o   d a   m o r t e

Proselitismo

diz-se
do povo
que veio a este
com a função de mudá-lo,
ou reforçá-lo com sua ladainha,
ou extorqui-lo com sua ganância
e falsos valores morais e humanísticos.

diz-se
do povo
que veio a este
com sede e fome,
com interesse e crença
em gerar um pouco mais de lucro
e um pouco mais de fiéis que o trarão o mesmo.

Comprai, Senhor! Comprai nossa alienação!

placebo para este povo sofrido e descrente,
sem papa, sem dinheiro, sem tino!

e o que o Papa salvará com nossos poucos centavos?

creio que meu ceticismo e desconfiança
apenas fortificam minha visão
de que só a Igreja se salvará,
às custas do vasto custo, honesto,
que seus fiéis hão de pagar.

mas fé não é cegueira, fé não é salvação.
fé é placebo e um abrir de portas
para aproveitadores mal intencionados.

Samobójców

s a m o b ó j c ó w
a
m
e     b u l l s h i t   e
                            v
                            e r y d a y

                               
Every night I just walk somewhere between me and my room
and all I can see is samobójców consuming me,
calling me to its depths,
teasing me…

depressing me.

Every night all I think is I’d like to disappear
and go somewhere I wouldn’t be found.

Every night my tears fall down
and what they tell me is nobody likes
depressive people.

BULLSHIT!

The same bullshit everyday!
Incompetence and selfishness don’t allow them to help
so they say all that shit they hide in their mouths!

I laught at them…
I cry because of them…

Only samobójców, can help me.

Confiança

O cérebro codifica interpretação
e imaginação,
                             não realidade.

                     Posso estar errado
ao dizer que ela é perfeita
                 em suas imperfeições,

                 mas, o que interpreto
e imagino em relação
         à imagem que criei para ela

 tornou-se minha e sua realidades,

                    porque cada verso
que escrevo é um universo
  de amor, cuidado e sinceridade

     dedicado inteiramente a ela.

Ela

Quando temos ninguém
temos medo de nunca encontrar
alguém a quem amar.

Quando temos alguém,
temos medo de acabar
com ninguém a quem abraçar.

Vivemos com medo,
mas, se não vivêssemos assim,
não daríamos valor a quem temos ou tivemos.
Se não vivêssemos assim,
o amor que sinto pareceria vão até para mim.

Essa é a natureza humana:
temer sair de sua zona de conforto, de felicidade…
o sofrimento.

E é assim como me sinto a seu lado:
livre, alegre, vivo, apaixonado…
como todo bom homem, temendo perder o que me faz feliz.

Observação #19

Não olhe em meus olhos,
não me quero refletido em seus,
nem mesmo aturar
suas interpretações
sobre meus inconstantes sentimentos.

Não olhe em meus olhos.

Não quero passar toda a tristeza
para um mero observador
da depressão que assegura
minha identidade oculta
nos versos que escrevo
apenas para meu entendimento
e solidão.

Não olhe em meus olhos
e seja feliz como nunca fui.

Seja feliz, saia pra passear,
chame uma garota para sair,
ria das pessoas que passam
e ria-se de si mesmo,

porque não tem coisa pior
do que viver morto
dentro de uma carcaça
putrefata e insuficiente

– somente para ela mesma.

Observação #18

Queria que minhas   p a l a v r a s   acompanhassem

       m
             e
                     u         s

                                                                       d
                                                                 i
                                                                      s
                                                                              p
                                                                         e
                                                                  r
                                                                      s
                                                                             o
                                                                        s  

               

                       e  

                                                 c o m p l e x o s              

                      p
            e
          n
             s
                   a
                        m
                       e
                         n
                        t
                             o    s

Estamos juntos

Sua cabeça lhe engana.

Tarde da noite, na escuridão
e silêncio de seu quarto,
seus pensamentos divagam
pelo medo do abandono e solidão.

Tarde da noite, suas lágrimas
molham o travesseiro e cobertor,
porque parecem ser seus únicos amigos
e os únicos que estão ali para você.

Sua cabeça lhe engana.

Tarde da noite, na escuridão
e silêncio de meu quarto,
reservo meus pensamentos
para aquela que amo.

Tarde da noite, minha preocupação
se destina a sua felicidade e bem-estar
e penso, e respiro, e devaneio
querendo saber se está tudo bem.

Sua cabeça lhe engana.
São só imagens que tentam lhe destruir
e, apesar de sua insistência,
permaneço a seu lado.

Continuo ligando e escrevendo,
continuo lhe abraçando e beijando
e, o que é mais importante,

continuo amando

aquela que pensa demais,
aquela que se distrai facilmente
e pensa que está sozinha.

E sua cabeça lhe engana…

Estou aqui…

… amando todo o amor impossível, com você.

Reconstrução

É como se tivesse assassinado
meus poemas eloquentemente
e agora esteja desligado
de um poético viver inteligente.

A chuva já molhou as ruas
e os carros nadam pelas valas sujas.
Meu eu fugiu de mim
e agora vago com mãos nuas
em busca da liberdade que desconheço.

Procuro o incerto
na certeza de me deparar com a desconfiança
e repúdio alheios
– ainda muito discretos.

Procuro a esperança
(neste vai e vem para mim)
como um trem sem estação

e deveras entrego-me
por ter confiado demais
no potencial que sempre me salvou,

                                                              até então.

Confiar em si mesmo
é a genuína e honrosa
         salvação.