Casou-se com seu primo para causar a discórdia da família,
que já havia se desestruturado e caído em ruínas quando seu filho,
que era borderline, suicidou em frente a todos os parentes,
durante a última ceia de Natal.
Frutos do incesto, viviam uma vida convencional,
como a que todos procuram viver…
achando que assim se tornariam diferentes,
achando que aquilo era o mais sensato a se fazer.
Não podiam ter história, e suas memórias eram forjadas
de acordo com o que pensavam seus vizinhos e (des)conhecidos.
Não podiam mostrar afeto, pois os outros repudiavam
seus laços de amor e amizade entrelaçados.
Tempos difíceis, em que impera a moral cristã,
em meio a um ocidente caótico e desmoralizado;
tempos libertosos, nos quais cada um torna-se dono de si
sob a censura e olhos repudiados.
Seus outros primos também se casaram entre si,
formando, assim, uma família nada típica, mas muito feliz.
Viveram orgias todos juntos e riram dos que não aceitavam
a conduta que levavam.
Eram quatro ou cinco… talvez seis morando numa mesma casa,
dividindo seus pares e repudiando o repúdio dos alheios a sua situação.
Certa vez perguntaram se eles não tinham Deus no coração
e o primo mais velho respondeu que Deus era um xereta
que ficava espiando, pelas persianas, seus atos sexuais.
E, de fato, Deus adorava se masturbar vendo aquelas cenas impressionantes e únicas.
Tempos difíceis, em que impera a moral cristã,
em meio a um ocidente caótico e desmoralizado.
O que é moral? Quem a constrói?
Olhos maioritários, talvez.
Tempos difíceis, em que impera a moral cristã.
Quem era o errado? Existia algum, de fato?
Creio que Deus, apenas. Afinal, cada um é dono de seu próprio corpo…
… ou deveria ser.