a droga da depressão
é
meu descaminho mais
tedioso,
meu bolso roto:
lamúrias de um robô
psiquiátrico:
queria ser enterrado vivo,
porque, assim,
ao menos chorariam
meu corpo dilacerado,
cujo coração lamacento
daria lugar a coloridas flores…
decerto mais em conta do que
meu caro Pristiq.
minha agonia seria cristalizada
e
levada comigo para meu tenro poço de lágrimas,
já que sou “um poço de mágoas”,
como me disseram certa vez.
as substâncias em mim, tão ausentes,
como todos de antanho…
depressores como lâmina
nos pulsos, cavidades letais
em mim tão presentes…
e essa “poesia” ridícula?
versos de sofrimento para fazer sofrer?
quanta inutilidade…
ainda,
a droga da depressão
é
meu maior tesouro,
pois com ela me opio
em sórdidos pensamentos
sem que NINGUÉM
levante uma palavra de objeção,
uma construção preocupada…
por aqui, só há negligência
e silêncios assustadores.
e já estou prestes a dar lugar a flores.
tudo que peço antes de partir
é
que a droga da depressão
permaneça sobre meu leito,
em lutuosas flores de sonho,
e que atinjam a iluminação
sem
ler meus versos agoniantes
e agonizantes.
a droga da depressão
é
meu descaminho mais
tedioso,
meu bolso roto:
e até as pétalas se desprendem,
se matando como um poeta
para sempre atordoado
pela miséria de sua existência.