E?

Todo meu corpo se inquieta
à tua forte imagem, Golias,
e o povo, a ti, se aquieta.

Olhando-te agora, melancolias
espreitam minha mente,
mas irei derrotá-lo com avarias.

“Dorme, Israel, dorme calmamente,
pois amanhã será a grande guerra
que, do bronze, sangrará teu poente.

Escravizaremos tu e toda tua terra,
lutem comigo: o vencedor terá liberdade,
o perdedor, a miséria que arde e erra.”

Estremece o povo israelita, é verdade,
mas me proponho a lutar,
mesmo que meu porém seja a fragilidade.

Esta pedra, pequena, vou arremessar
em Golias, e espantarei os filisteus
com as bênçãos que sobre mim o Senhor derramar.

“Vejo, jovem Davi, o medo em teu
semblante e em teu corpo, calafrios;
o que resta para a morte? Onde estará teu Deus?”

Está em tudo: em mim, em ti… até nos vazios.
Tenho um presente aos povos de Israel e de Judá:
a morte do filisteu mais espantoso e frio.

Então, Davi arremessará a pedra, que atingirá
a cabeça de Golias e ficará encravada…
salvando seu povo, que se libertará.

 

posto no oposto

amei, amor.
mas estás amedrontado.
outrem em meu posto,
eu no oposto…
amei e jamais serei amado.

amei, amor.
mas amei lado a lado.
chorei e caí
e abandonei
o amor abandonado.

estive em teu peito.
ardi em chuvosa sensação.
em tentativas e tentativas,
quedas e feridas,
a dor veio e machucou o coração.

mas amei, amor.
e disso posso me orgulhar.
tanta superficialidade
neste mundo improfundo
que só nos resta amar e amar.

apesar

fui profundo conhecedor das alegrias,
e, melancólico ajuntador das palavras
que sangram feito carne esfacelada,
escrevi felizes versos de profunda tristeza.

fui verdadeiro artífice da sombra e palidez,
dos sentimentos imensuráveis…
fui poeta e mais que isso: o vazio que recai
como um véu sobre mentes desliáveis.

repleto de vazios repletos de irrepletos,
não quero transferir minha melancolia
aos que lutam para escapar de suas próprias,

mas atar a angústia e desolação à vida,
– dando valor ao que chamamos alegria,
seguindo em frente apesar da aberta ferida.