cheiros de pólvora e de fuligem
: o terreno fissurento arrouba
tanta trincheira besta, deuses
, no peito aberto pousa
aquela velha exausta flor
, porém flor
, que ainda dança
em clima de ainda-eterna-
-nunca-vista-mudança
ao sonoro agudo
(de minas pétreas que se ruem
, vigas férreas que se chocam
– e as mais pobres que se fodam
) das explosões que esquecemos
para enfim poder dançar
pois era dia quando o
era
gente pra todo lado
sorrisos que escancaram
nossas faces mudas
degoladas
o que raia se oblitera
seja a chuva que irriga
o sol que em brasa ao mundo aviva
ou a flor, que de tanto existir
só existe
mas o que se oblitera talvez alumie
– em buquê ou outro
– a terra de sangue irrigado
onde colhe fome
o cadáver jardineiro
Mês: outubro 2021
–
exímio artista, queria controlar o mundo
em quadros de pinceladas uniformes;
telas e tintas bem-selecionadas;
ângulos e perspectivas inovadores.
ao final de cada obra, pregava à parede
sua genialidade incomum e incontestável;
tomava distância para observar o trabalho
que pensou e construiu com raro esmero
mas estava sempre torto.
–
da vida uma avaria acelerou
rindo sobre mim, colérico
pneus quentes à vala molhada e fria
fina fresta entre porta e perna
conforme a água suja
fria
da vala encharcada
do enquanto chovia
rebentava em absorção, em minhas roupas
na bicicleta, me emputecia
eufórico e arrefecendo
e depois do impulso de acelerar ao farol
nada sentia ao pensar em meus atos
dominado
pela mais vil frieza humana
das demandas que forjamos
amor que não me vive
mas que me retém
na medula o inteiro sopro
suave da brisa
que arrefece e arrepia
não fenece
e suspira
aos quereres e sonhares
que inventei pra possuir
esse amor que não me há
do mundo o salvador
tendo havido sempre mundo
antes de haver amor