bourgeoisie

rasos núcleos mínimos
em meio a batidas se agitam
e em tudo se exaltam
e por tudo gritam

rugem e mugem sozinhos
em total dissonância aos afins
são todos o que são
nem bons, nem ruins

e deles me isolo à solidão
da diferença mal adaptada
daqui escuto o que escutam
em vida a eles descontinuada

e tudo que mostram ignoro
com profundo conhecimento
pois se daqui observo com critério
voltei sequelado a este suntuoso inferno

rotineiro

ti ti ti-lin-tam
também escutas estrondos enquanto tentas dormir?

acamado e dormente e doente e abandonado
com tudo isso me adjetivaram…
e com tristeza
devo lembrar que todo rol é incompleto

neste refúgio quadrado, tento me concentrar…

tento e falho e tento e falho
como se impossibilidades me dominassem

recentemente, tive uma crise (em meio aos tantos
progressos que conquistei)

tudo é processo, afinal… e tudo é indiferente…

um dia me disseram que haveria amor na saudade
e que haveria saudade na distância.
a culpa do meu abandono é minha, onde está la vie en rose?

antes de minhas silentes agonias
revisito minha infância forjada pelo esquecimento parcial

o eu menino que cantava aos brinquedos morreu
e em minha mão se encontra o punhal

uma gotinha desce do canto da pálpebra contraída
e se estende ao afanar de meu seco anelar.

que se fodam os que me rodeiam! que se fodam todos eles!

enjoei, ecoei
sim, ecoei.
já não ecoo… já não me localizo frente às angústias
há angústias? estou tão bloqueado…

minhas retinas decodificam o aproximar alheio, e são
todos excelentes atores sociológicos…
infelizes, aqui veem alegria…
alegria, alegria! também sei atuar!

sorrisos a tudo! sorrisos a todos!
… e na solidão
o pranto silencioso aparece até a aurora de meus outros palcos

amor, aprendi significantes aos meus vocativos
mas sua outra metade se esvaiu
e ruiu e sofreu e sorriu
sempre amareladamente…

e destruiu e mordeu e cuspiu
sempre sem sempres afetivos…
sempre vil em seu mundo doente…

é normal fragmentar a vida?
e que será viver senão um findo retornar eterno?

tilinto…              tintim!…

um brinde aos otimistas! um brinde às suas saúdes!

não! são saudáveis!
a espessa blindagem ilusória protege-os

um brinde a ninguém! um brinde à ausência de nós!
nada sou e nada serei!
e no fim do dia, quando a nós retornamos,
estamos todos lamentavelmente sós.