Quantas madrugadas, ainda, teremos que deixar
sonolentas, impassíveis, ébrias, violentas?
O piano já está trancado, as violas, guardadas
e os musicistas já se retiraram para seus úmidos aposentos.
São lágrimas nas paredes. Lágrimas e gritos, disseram eles.
Desfilamos pelos corredores como nobres embriagados,
Em direção ao nosso quarto, marchamos cambaleando
e desfalecendo nossas roupas, seguindo o véu invisível
de nossas realidades conjuntas.
[Uivos pelas janelas.
Exploremos.
A chuva que não molha realmente,
Juntos, ajoelhando na escuridão.
Corações mutilados sob as sotainas.
A música volta a tocar enquanto todos estão dormindo.
Estamos nus, abraçados, nos fodendo e sorrindo
ao som de um nirvana umedecido.
É só suor, eles disseram. Continuem.
E os anjos sexuais permaneceram ao nosso lado,
escrevendo, descrevendo e sugerindo novos prazeres litúrgicos e carnais.
Rasgaram a Palavra.
Cuspiram na cruz.
Nós ali, nos fodendo, sob os uivos cada vez mais estridentes.
Quantas noites, ainda, passaremos acordados,
bebendo e fingindo fugir da realidade?
A música parou novamente.
As paredes secaram e se silenciaram.
Os mortos soergueram.
Todos caímos, todos caem.
E por você, minha amada, não me faltará amor, sonho ou ebriedade.
Mas, amanhã pela manhã
voltarei a ser o poeta das esquinas,
dos versos soltos, como nós,
dos poemas retos e apoéticos…
um ser limitado e obtuso como qualquer outro.