poema-claustro

aprisiono-me neste poema-claustro,
negligenciando a autodestruição
das palavras,
a contradição das lágrimas
e as mágoas que conduzem
a todos estes escuros pensamentos.

alimento-me de muitas destas
incontáveis misérias
humanas,
e o que digiro desnutre o brilho,
a prosperidade recolhida num canto,
a libido deslocada ao gatilho de um sutil desencanto.

inundo-me de versos refeitos e gastos
sob a perspectiva da não-perspectiva
das palavras
e soluço formas que me acompanham,
em silêncio e discrição, pelo esgotamento
que também absorve esta escrita.

rasgo-me e rasgo este papel num impulso
que se debruça e fagocita esperanças
humanas,
permeado pela contradição das mágoas
que conduzem ao deslocamento isolado
de um oceano que se perde em suas águas.