Braços

Braços longos que poderiam abraçar
os mundos que passam por eles
preferem o ócio.

Outros, curtos demais para
abraçar mais de um mundo,preferem se encolher e seguir a vida.
Outros, porém, repudiam limitações:
abraçam todos que encontram pela frente,
sem se preocupar com a impotência.

Outros, ainda, abraçam um por vez,
focados e potentes, mudando seus caminhos
e traçando novas rotas e objetivos.

Há braços,

Abraços.

Revisitar versos é sempre doloroso.
Já não sinto o que sentia,
mas, no seio da triste poesia,
encontro-me mais desprezível e rancoroso.
A dor que se revela e amplia
é, para o poeta, fruto de si e glorioso
remédio para o esforço medicamentoso,
que condensa, respira e vive a melancolia.
E por que devo dizer que estou bem
se meu próprio esforço é, também,
algo que criei contra algo que inventei?
Por que devo conservar a vida numa redoma
se tudo que sinto a mim assoma
e me faz querer provar que nunca morrerei?

A solidão acusa o sofrimento

A solidão acusa o sofrimento
que brota de minhas profundezas.
Alegria? Não sabes a dor que é sorrir
Quando se está imerso em tristezas.
O peito galopa, vai longe e emudece…
a solidão acusa o sofrimento…
a lágrima pálida cai e permanece…
e o coração imobiliza um eu lamacento…
As mágoas que tenho em lembranças
são fruto de minha criação mental.
A solidão acusa o sofrimento,
que pode ser uma invenção… imortal.
Os dedos se envolvem com as cicatrizes.
São apelo, pose, desespero e tormento
que vem à luz de novas diretrizes.
a solidão acusa o sofrimento.

The Angel of Death

The Angel of Death with his wings were seen
when the skies were dark, but the rest was green.
And he breathed in the face of a beautiful lady,
whose eyes got lost in his deadly and shady
heart – so empty and cold – she wished to die.

So, the Angel of Death took her with him
when the skies were dark and the rest was green.
And his clasped hands grasped her head out of sight…
when the lady’s body, like the stars of the night
awoke from a darkling sleep:

The Angel of Death was gone as her memory,
so deep and quiet as a glass with no emery.
And when the lady realized it was just a dream
about the skies that were dark and the rest that was green,
she killed herself with his son’s sword…

and melted the mercy and glance of our Lord.

O que tenho a dizer

é que saí das mãos de Deus
para caminhar com meus próprios
pés, pelo seco e úmido, 
pelo monótono e estrondoso,
sem que houvesse desculpas e perdão
para meus erros.
Meus pecados são criações humanas,
são interesses divinos em corpos humanos.
Filho do homem, nasci para morrer e não buscar a eternidade.
Vivo para construí-la, entretanto, pelo meu esforço, não pela
suposta bondade, que tanto cobram – rumo a uma perfeição
imperfeita e deveras gasta e escassa.
O que tenho a dizer
é que saí das mãos de deuses
para caminhar sem guia, sem rumo,
construindo modelos, não seguindo os mesmos.
Revogam sentimentos humanos.
O amor, mesmo, se tornou objetivo e deixou de ser princípio…
e, quando isso acontece,
cabe a nós revogar ideais ultrapassados.
Ideais que só constroem repulsa.

Sucumbir

Minha mente continua silenciosa, e
por ter aprendido a calar,
jamais falei.

Aqui, ninguém mais canta.

Aqui, todos são vazios:
ponderam e excogitam
a leveza de seus seres,
mas são pesados, cansados, difíceis.

Não me acostumo ao jeito como as coisas são.

E, talvez, não sejam para mim.

Farto, o basta me parece perto,
mas ainda tenho algumas coisinhas que me
permitem viver
a paz absoluta
de uma existência em crise.

Em minha mente duvidosa,
conto as estrelas e os buracos
que elas deixam quando partem.

Já perdi a conta inúmeras vezes,
mas continuo contando
para, enfim, ter alguma certeza na vida.

Nem que seja a do abandono.

Não me acostumo ao jeito como as coisas são.

Não sei se o problema está em mim,
mas alguém disse que o mundo
não está preparado para pessoas bonitas.

Me senti bonito pela primeira vez,
até o esquecimento me pareceu atraente…
e esqueci, também pela primeira vez,
que todos se vão.

Nojento, sem apelo sexual e retido até o talo…

ainda tirarei minha vida.
E caminharei solitário até encontrar algo
que me seja suficiente para me devolver o brilho,
o tino, a beleza e o talento.

Não dou ouvidos aos outros, pois eu mesmo me silenciei.
Não cobro atenção, não desejo pedidos de desculpas…
só gostaria de ter meu eu para mim – mais uma vez.

Gostaria que compreendessem as contradições,
as batalhas, as mágoas e lágrimas
que tanto despejei em minha mente,
deveras pesada, cansada, difícil… rigorosa.

A perfeição jamais esteve aqui.
Pensei que estivesse, mas nunca esteve
e nunca estará.

A incompletude do ser se faz retrato.
A incompletude de tudo se faz hiato.

E o poeta retorna à melancolia e escuridão
que ele mesmo inventou para si.

Inconstância

Interpreta a realidade com sofrimento,
                                                 
                                                         enxerga sua vida com agonia e pessimismo
em meio às invenções inventadas
                               
                                                    por sua melancolia.

      Porém, não é sua culpa…
                    afinal,
                    toda maravilha em demasia
                                                                  transmite a dúvida…

por isso, talvez,
                             ela duvide de si mesma.

Tendo tanto silêncio em mim,

aprendi a nunca dizer,
mas sempre calar.
O que foi dito
nunca foi.
O que quis dizer,
sempre presente,
sempre foi
minha forma 
mais sincera
de autodestruição.
Tendo tanto medo em mim,
aprendi o não dito.
E o que disse, amigo?
Não era importante.
Nunca fui
eu mesmo.

Em ti, toda profundeza se acumula,
toda paixão se estrutura,
toda alegria se engrandece,
todo pensamento se destina.
Escrevi versos em segredo,
e o silêncio entre minhas palavras
e teus lábios e olhos quase fechados
me permitiram sorrir
após inquietudes amargas
e os rastros das lágrimas que esqueci.
Em mim, todo espelho quebradiço te reflete,
todo sentimento se encontra,
toda saudade permanece…
e já não tenho impulsos que ameaçam
aqueles que amo e amei.
E tudo que fascina e surpreende,
aquilo que constrói aquilo que amo e desejo
está em teu semblante, apenas, em teus trejeitos e ideias,
está em teu coração, incontido e liberto, que tanto venero,
está em teu tão necessário riso…
cuja voz sai do verso e parte ao divino.
Em ti, toda alma sem descanso rejuvenesce,
as pupilas se dilatam, a paz interior aflora.
Em ti, todos os sonhos se realizam
no nunca e sempre de palavras
que desejei te dizer,
mas não disse.
E agora, amando-te cada vez mais,
sem o teu conhecimento ou parecer,
escrevo poemas para, quem sabe,
um dia poder amar-te por completo,
cada vez mais…
com um coração restaurado…
e mais…
e mais