Minha mente continua silenciosa, e
por ter aprendido a calar,
jamais falei.
Aqui, ninguém mais canta.
Aqui, todos são vazios:
ponderam e excogitam
a leveza de seus seres,
mas são pesados, cansados, difíceis.
Não me acostumo ao jeito como as coisas são.
E, talvez, não sejam para mim.
Farto, o basta me parece perto,
mas ainda tenho algumas coisinhas que me
permitem viver
a paz absoluta
de uma existência em crise.
Em minha mente duvidosa,
conto as estrelas e os buracos
que elas deixam quando partem.
Já perdi a conta inúmeras vezes,
mas continuo contando
para, enfim, ter alguma certeza na vida.
Nem que seja a do abandono.
Não me acostumo ao jeito como as coisas são.
Não sei se o problema está em mim,
mas alguém disse que o mundo
não está preparado para pessoas bonitas.
Me senti bonito pela primeira vez,
até o esquecimento me pareceu atraente…
e esqueci, também pela primeira vez,
que todos se vão.
Nojento, sem apelo sexual e retido até o talo…
ainda tirarei minha vida.
E caminharei solitário até encontrar algo
que me seja suficiente para me devolver o brilho,
o tino, a beleza e o talento.
Não dou ouvidos aos outros, pois eu mesmo me silenciei.
Não cobro atenção, não desejo pedidos de desculpas…
só gostaria de ter meu eu para mim – mais uma vez.
Gostaria que compreendessem as contradições,
as batalhas, as mágoas e lágrimas
que tanto despejei em minha mente,
deveras pesada, cansada, difícil… rigorosa.
A perfeição jamais esteve aqui.
Pensei que estivesse, mas nunca esteve
e nunca estará.
A incompletude do ser se faz retrato.
A incompletude de tudo se faz hiato.
E o poeta retorna à melancolia e escuridão
que ele mesmo inventou para si.