To a Certain Civilian, Walt Whitman (1819-1892)

A um Certo Cidadão
Walt Whitman (1819 – 1892)
Tradução: Paulo Mielmiczuk (1995 -)


Você pediu doces rimas de mim?
Buscou a paz e as lânguidas rimas do cidadão?
Achou que o que cantei era difícil de acompanhar?
Pois ainda não estava cantando tão difícil de seguir, de entender – ainda não estou;
(Eu nasci do mesmo que a guerra nasceu,
O barulho da marcha é sempre doce para mim, bem amo a endecha militar,
Com o lento lamento e o convulsivo vibrar conduzindo o funeral do comandante;)
O que você tem a ver com um poeta como eu? deixe minhas obras,
E vai ninar com o que consegue compreender, com melodias de piano,
Pois não acalmo ninguém, e você jamais vai me entender.

Walt Whitman

To a Certain Civilian
Walt Whitman (1819 – 1892)

Did you ask dulcet rhymes from me?
Did you seek the civilian’s peaceful and languishing rhymes?
Did you find what I sang erewhile so hard to follow?
Why I was not singing erewhile for you to follow, to understand—nor am I now;
(I have been born of the same as the war was born,
The drum-corps’ rattle is ever to me sweet music, I love well the martial dirge,
With slow wail and convulsive throb leading the officer’s funeral;)
What to such as you anyhow such a poet as I? therefore leave my works,
And go lull yourself with what you can understand, and with piano-tunes,
For I lull nobody, and you will never understand me.

Um hype é um hype

Além de mim o finito ecoa      
Mimesis ilusória e o tédio que elimina
O impostor inda ironiza a algema, sendo liberto
Não por um nem por outro. Nos
Games esvaziados é que é esperto:

Unidos degolamos o aliado
Saudando farsantes que nos riem de perto.

Medusa, Sylvia Plath (1932-1963)

MEDUSA
Sylvia Plath (1932-1963)
Tradução: Paulo Mielmiczuk (1995 –)

Longe da península de pétreas mordaças,
Olhos revirados por varetas brancas,
Orelhas colhendo as incoerências do mar,
Alojas tua enervante cabeça-globo-Divino,
Lentes de piedades,

Teus parasitas
Firmando células ferinas à sombra de minha nau
Pulsando feito corações,
Rubros estigmas bem no centro,
Navegando a correnteza até o mais perto partir,

Arrastando seus cabelos de Jesus.
Escapei, eu pergunto?
Minha mente sopra até ti
Velho umbigo-craca, cabo Atlântico,
Mantendo-te, parece, em milagrosa conservação.

De todo modo, estás sempre lá,
Trêmula respiração ao fim de minha linha,
Curso d’água saltando
Da minha vara, deslumbrand’e agradecendo
Tocando e sugando.

Não te chamei.
Não te chamei mesmo.
No entanto, no entanto
Vieste a mim a vapor pelo mar
Gorda e rubra, uma placenta
Paralisando os intensos amantes.
Luz de naja
Estrangulando hálito dos sinos sanguíneos
Da fúcsia. Não pude respirar,
Morta e sem grana,

Superexposta, como um raio-X.
Quem pensas que és?
Hóstia de comunhão? Maria Parteira?
Não vou morder teu corpo,
Garrafa aonde vivo,

Vaticano espectral.
Estou farta de sal quente.
Imaturos como eunucos, seus anseios
Sibilam aos meus pecados.
Sai, sai, tentáculo d’enguia!

Não há nada entre nós

Sylvia Plath

MEDUSA
Sylvia Plath (1932-1963)

Off that landspit of stony mouth-plugs,
Eyes rolled by white sticks,
Ears cupping the sea’s incoherences,
You house your unnerving head-God-ball,
Lens of mercies,

Your stooges
Plying their wild cells in my keel’s shadow,
Pushing by like hearts,
Red stigmata at the very center,
Riding the rip tide to the nearest point of departure,

Dragging their Jesus hair.
Did I escape, I wonder?
My mind winds to you
Old barnacled umbilicus, Atlantic cable,
Keeping itself, it seems, in a state of miraculous repair.

In any case, you are always there,
Tremulous breath at the end of my line,
Curve of water upleaping
To my water rod, dazzling and grateful,
Touching and sucking.

I didn’t call you.
I didn’t call you at all.
Nevertheless, nevertheless
You steamed to me over the sea,
Fat and red, a placenta
Paralysing the kicking lovers.
Cobra light
Squeezing the breath from blood bells
Of the fuscia. I could draw no breath,
Dead and moneyless,

Overexposed, like an X-ray.
Who do you think you are?
A Communion wafer? Blubbery Mary?
I shall take no bite of your body,
Bottle in which I live,

Ghastly Vatican.
I am sick to death of hot salt.
Green as eunuchs, your wishes
Hiss at my sins.
Off, off, eely tentacle!

There is nothing between us.

Periférico

no princípio, money comprou o periférico
lançou-o na treva do abismo
torrou corpos e potenciais
guerra: motor do elitismo
seca de amor em mananciais

disse money: “haja pra mim”
e assim sempre houve
o mesmo Eu exaltado
“haja pra mim o que do Outro
e que suma dos burgos
o que a mim não louve”
e o que havia foi então dominado.

passaram-se pounds e bucks
toda trade nova cifra

e vendeu money o periférico pois muito reclamava
tudo em tudo produzia e nada possuía
mas money sendo money, money só lucrava

e dominou céus e imperou nos mares
milagroso do sonho à concretude
multiplicou em muito seus contares
e o periférico, ser eterno
transformou-se na mais injusta finitude

à imagem e semelhança do rentismo
money banhado em capitalismo
o periférico voltou-se elipse
e em si pollockeou ideais
alimentou a ilusão de salvação no apocalipse
que não o salvou e não salvará jamais.

paisagem interiorana

do varal carcomido, tecido velho se extrai
secura num flanco e a gola molhada
o varal carcomido, o passante abstrai
pigmento d’outrora e a cor encardida
roupa velha esquisita, de segunda, malquista
desbotada
quem a vê a detrai.

no seguinte raiar, inda dorme a cambada
o varal compelido, já inútil e retido
menino esperto e acordado
enroupado de amor e alegria
roupa estranha, d’outrora e d’euforia
é concebido a ela
outro cuidado

Feels so Good, Chuck Mangione

saudade do tempo que criei
mão encardida doce à boca levava
o violão choroso do tio arpejava
e a correria que invejei
era co barulho incessante
da gritaria de alegria reunida a criançada.

tempo que não volta mais
esconde-esconde sem pegador
monólogo amargo e ensurdecedor
eta adulteza isenta de ideais
o silencioso mundinho atrás da macondo
é meu soturno “pix” onde ainda me escondo.