Escuridão. Vozes diminutas, do outro lado, materializam minha solidão. Ainda não sei se é vazio, mas tateei pelas paredes – e nada encontrei. Nem mesmo uma maçaneta, nem mesmo uma janela… Quem predomina é meu silêncio. Por isso escuto o mundo, por isso ouço o que dizem, e aqui me melancolizo – a ponto de querer me encerrar, sem enxergar possíveis métodos eficazes para fazê-lo… – e me culpo. Como cheguei aqui? perguntarias, se soubesses de minha existência. Na verdade, acho que nem quem me concebeu se lembra de mim. Esta merda de quarto arranjado, meu poço de lágrimas: poço de mágoas, como eu!
Nenhuma estrela me ilumina, neste período em que vivo – se é que vivo – a sós. O teto está penumbroso, mas sinto que deveria ser assim. Se não fosse, imagina o mal-estar que causaria minha presença. Porque se lembrariam de mim caso me vissem, apesar da aparência possivelmente deformada à lembrança que teriam. Grandes expectativas me cercariam, porque fui um escritor, um poeta bem-sucedido que deixou tudo para trás, de alguma forma, para permanecer encarcerado aqui, na calmaria eloquente do caos interno. E decerto frustraria quem as criou. Decerto sou um enganador.
Tentei gritar, mas não me ouviram. Tentei bater nas paredes, mas não se mexeram. Agora, tudo que me resta é minha mísera lembrança, instrumento capaz de me melancolizar mais ainda; de me transportar para um passado remoto, em que apanhava na escola e em casa, sem poder me defender. Passado este, quando chorava em silêncio e às escuras, como agora, sem que ninguém percebesse ou acordasse, pois eu não era importante… Nunca fui, acredito. E acredito piamente. Partindo dessa crença, as cavidades passaram a tomar conta de meus abraços. Rotos, assim os chamo. Assim são eles. Sempre com ímpeto e afeto, sempre afastados com um empurrão… Nenhuma estrela me ilumina desde que era pequeno. E agora, meus abraços se contentam com o vazio de meus braços, com minhas pernas recolhidas, com a solidão de um miserável.
Antes, perguntavam se estava tudo bem. Como se tudo estivesse bem com eles. Como se se comparassem a mim. A meu estado, digo. E sempre me disfarcei com a pose de uma pessoa-de-bem-com-a-vida, sorridente e positiva. Mas de tanto se acostumarem com essa máscara, renegaram meu posto depressor e depressivo e tentaram desconstruir o que em mim estava cristalizado. Nunca com grande esforço. Tentavam por meio do verbal, do discurso, do qual estou farto, e de nada adiantava. Talvez, se me perguntassem neste momento, dissesse que não. Que não queria responder, digo. Pois não sei o que se passa aqui, nem sei onde estou. O que sinto é minha cabeça girando. Parece que me doparam com antidepressivos, infelizes drogas que nos robotizam, apesar de haver, sem dúvida, diminuição do sofrimento.
Sinto que deve ser assim: devo me isolar das pessoas para deixá-las em paz. Para que elas vivam. Aquelas vozes diminutas, doces vozes inquietantes, para sempre serão minhas companheiras. Mesmo que se ausentem, mesmo que decifrem minha reclusão e me salvem desta prisão, ainda terei a mim. Meu passado, repleto de doídas lembranças, será, eternamente, meu lúdico instrumento… até que a morte me enclausure num outro quarto – chamado Nada.