figuram-se os desfigurados
os semi-desertos dissonantes
as lágrimas dos desgraçados
à luz ecoam
Le Cygne e Clair de Lune ressoam
o irrevogável extermínio dos amantes
se concretiza num duradouro lamento
pobres almas lutam e descansam
descansam? não pergunte
o eterno amante de ontem
agora é desconhecido
hesitam, inanimados
e deixo que partam
deixo que ressurjam o olvido
em algum tempo, haverá tempo
para que distrações distraiam
por ora
permanece a pergunta entalada na garganta
mas o engasgo é próximo
obstruirá as vias respiratórias
no final do amor, o que surgiu foi desconhecimento
um rol infinito de revisões
e nada mudará
um rol infinito de acusações
e ninguém assumirá
a criação destrutiva corrói corações
tudo conhecemos e agora te esqueço
a manhã ensolarada não foi vista
a tarde amena e sonolenta foi perdida
e a noite, adoecida
o sentimento adormeceu e a angústia se espreguiça
e atiça e atiça e atiça
minha inconstante e irrelevante atenção:
nascemos. crescemos. envelhecemos. morremos
nascemos. crescemos. envelhecemos. morremos
e onde me perco nisso? onde me encontro?
medi minha vida com um punhado de versos
e agora? que fazer?
os corpos se foram
as vozes se foram
as lembranças se foram
tenho a mim? o naufrágio me enlouqueceu
começo a vida num ponto obscuro, em prantos
existo e me crio como criado de outrem
deixo o tino e parto em silêncio
afogado, finalmente me encerro.