em todos os meus pares, um olhar de engenho
cava fundo o buraco onde o metemos
o condor – e nos bosques canta
um silencioso tilintar arrastado
os passos em barro
o ocaso. o acaso?
a espera

engenhoso explorador: tudo mata
sob as botinas – e a clareza
caminha de espingarda em riste
a apreensão da vida inteira
não era nada, nunca fora nada
e nunca seria

na Casa um calor intenso: a família
rompida num forçoso adultério
“Maria Maria, não dormir sossegado
pensar em você é ficar acordado
a noite inteira”
com malícia, um sorriso branco
condena o que deseja
almeja – e inveja

e relembra
em profundo esquecimento

saudade da infância, dos gritos de crianças
de testa nos postinhos, contando, contando
no diário esconde-esconde
no constante pega-pega

e o pai na lavoura
sorrindo um sorriso branco
olhando à lonjura
aquela em quem montam seus filhos
brincando de cavalinho, de burrinho
de mula

brincando
pois

não só fardo, no trabalho, é produzido
mas não só cana, na moenda, é objeto
em seu voo silente pelos ares
um condor um galho alcança
e em egoica apresentação de crista
nymphicus hollandicus bragança
depende de alguém que o sirva.