Esperança de minha juventude

Seu amor,

que tanto amou o amor da eternidade,
agora vive das cinzas de um sentimento
insípido e dizível.
Seu amor, 
que tanto durou e alimentou
o que hoje consideramos repulsivo…
Onde ele se esconde?
Não se sente sozinho
aí, no escuro, com seus livros e todo esse rancor
estampado na face?
Eu,
que tanto lhe acompanhei 
pelos sofrimentos e sensações indevidas,
que tanto lutei
pela alegria e dor invertidas,
agora 
somente 
torço 
para que você sinta falta de sentir.
e que aprenda a viver novamente.

Descrição

Os CDs empilhados sobre a mesa,
livros, jamais lidos,
empoleirados nas estantes,
sacolas plásticas e de papel sobrevoando 
nossas cabeças anuviadas.
Isto é arte?
As flores já murcharam devido ao excesso de luz
e fotoperiodismo adverso,
assim como eu, já morto e cansado,
estou em colisão com meu próprio estímulo.
Chaves não trancam as portas de minha mente.
Os escritos, prolixos e subjetivos em demasia
já se fazem ausentes de mim.
Ainda, isto é arte?
O vento sopra e eu desfaleço mais uma vez.
A doce noite realiza seus trabalhos e me cobre com seu véu.
Agora estou sonhando.
E, se durmo ou não, já não importa.
O que desperta interesse é que escrevo um poema ou dois
para a mulher que amo.

Decodificação

Mente inquieta, palavra escassa,
quietude rasa, solidão imersa.
Ondas de esmeralda,
poema em linha reta
Rol de epigramas
epitáfio obscuro, quieta!
Temo ser o último,
poesia inexata.
Exíguo em minha palavra –
palavra pouca, vão por decreto.

God

I still miss my loneliness.

Not the simple state of mind,
nor the lack of people I find
walking through my quietness.
I never saw or talked to God.
I’m sure He’s only a concept.
I’m sure He’s only an excerpt, 
a comfort, a company for us.
I still miss the way I used to
stay on my own.
I admire staying alone
and doing what I love to do:
So, I can never reach God
for His words only touch my 
emptiness and hollowness.
I still miss my loneliness.
Not the simple state of mind
nor the lack of poeple I find
walking through my pain.
It’s only a dream
people dare to dream…
because of shortage of spirit.

Infância

Era uma infância atordoante.

Sem amigos, era o que escrevia,
pois sua mente o dizia
que era um moleque degradante.
Irritava-se com quem o queria bem,
calava o pranto, a quietude o permitia
chorar em silêncio a melancolia 
que até hoje o atém.
Era o diabinho do sentimento.
Somente com livros e imaginação,
perdido, só, na solidão,
esquecia-se em seu esquecimento.
Quanto mais parecia lutar,
aprendeu a derrota,
surtiu, então,  uma dor remota
a partir do desejo de amar.
E amou. Amou a sós
o que o tornava poesia:
somente a dor, de si ria
por não ter eco ou voz.
Era uma infância atordoante.
Sem amigos, era o que escrevia,
pois sua mente o dizia
que era um moleque sufocante.

Laura

Outono. A dúvida implacável que me cerca se faz evasiva e lôbrega. Sento-me para escrever um poema, um soneto, talvez, mas nada parece surtir de minha mente deveras cansada, deveras atrelada e revolta em sórdidos e saudosos pensamentos. Enquanto minha mão vaga pelo papel em branco, vago, escrevo torpes e turvas palavras com a face nua. Sim, escrevo sem escrever, apenas com o olhar. E o olhar se faz distraído. Presto atenção à música que toca. Nada me toca, todavia. Meu escritório, repleto de livros e jornais velhos, que nunca foram lidos, minha poltrona azul, a luminária antiga e a escrivaninha bem iluminada se escondem nas sombras altas e claras de meu corpo, das melenas que batem, negras, no chão do aposento. Mas nunca vou a meu cômodo favorito para que não deixe de ser meu cômodo favorito: o quarto.
As árvores, pobres, desfalecem gota a gota, e suas folhas caem em meu quintal. Os poemas de outrora ainda estão lá, grafados nos resquícios, na ruína, na podridão da casa do vizinho. A música ainda soa, porque sempre fomos amantes do jazz apático e melancólico. “Laura” toca no rádio, na voz de Sinatra, numa estação – há muito – conhecida, que repete sua lista de músicas a cada três dias, aproximadamente. E os dias, por vezes nublados, por vezes abertos, se distanciam de minha noção de tempo, de meu ego latejante, de minha solidão sufocante.
Tive uma companheira chamada Laura. Tive dias de pura alegria e inspiração… O epitáfio se ergueu anos mais tarde, abaixo das folhas de relva e carvalhos que caíam desordenadamente em meu quintal. Foi um impacto imenso em minha carreira de poeta e em minha vida pessoal, mas a perda só existiu, pois houve apropriação. E eu jamais quis tê-la como minha. Não era minha.
Disse que meus escritos estavam prolixos e que a alma da poesia era cortar palavras sem alma. Ela sorriu e me chamou para deitar. Logo adormeci. As horas de sono nunca foram algo a se apreciar. Queria estar ativo a todo custo. O ócio me fazia mal. Acordamos e ela preparou o café enquanto eu lia as novidades poéticas para ela. Por vezes trocávamos as funções. Normalmente eu não tinha função alguma. Fui escrever um pouco e ela foi plantar flores no quintal. Ela lá embaixo, eu em cima. Então, nascia a primeira poesia da manhã. E eu, aos berros, declamava tudo para ela!
Ainda não consigo escrever. As palavras me são escassas. Deveria começar com algo simples, como o retrato de Laura pela janela. Mas as imagens já não me vêm tão facilmente. Deveria seguir com os simples lirismos de minha época de escritor apaixonado… mas ela se foi.
Laura me acordava com um beijo e palavras carinhosas. Sinto sua falta, onde quer que esteja agora.
Sinto falta de nossas brincadeiras e de rir de nós mesmos e dos outros com pura inocência. Sinto falta do sexo, do tino, dos vinhos que bebíamos juntos e das palavras, mais do que tudo, que, enfim, conseguiram exprimir nosso sentimento um para o outro. “But she’s only a dream”, cantava Sinatra.
E ainda é. Um sonho pelo qual eu dormiria o Sono Eterno.

Alguém

Aquém do além
foi-se meu amor.

deixou cicatrizes
para ser eterna,

e, eterna, sacrificou
meu próprio sentimento

por um pouco mais de volúpia.

Além do aquém
ficou melancolia, sexo, droga,

poesia…

e resumi a mim mesmo
a estrofes curtas,

a poemas rasgados,

a rascunhos não poetizados.

Aquém do além
foi-se meu amor.

deixou cicatrizes
para ser eterna,

e, eterna, minha alma
consigo levou.

G.N.

Pela forma caminhei

buscando conteúdo.
E arrependi minha poesia
pelo que sonhei 
para mim mesmo: tudo.
Caminhei solitário
                                     por vários formatos
                                                                           vários escritos
excogitando mistérios 
                                        enigmas
e novos paradigmas.
Escrevi poemas
descobri problemas
refiz palavras doentes
e me percebi ausente
de tudo que escrevera.

Poemeto chato

Algo um
novo recomeço
dois: amor
saudade.

ao piano bebo
acordes com
sétima
para incitar
o desfecho
de um amor
iniciado.

não acaba.

algo um
novo recomeço
de dois: amor
e saudade

ao teatro
quem diz que
representar
é o mais
importante?

não acaba…

estou farto.

acabou.

Let isolation and solitude sleep

Let isolation and solitude
sleep in the arms of passion,
while I cry (I cry myself)
in melting walls of silent screams.

Just be patient when you’re lost
in quietness and surrounded by idiots
shouting the rectitude of our voices.

Let me go through their minds.

Let me be in their quiet dreams
and ask themselves (if I asked myself)
“what the hell am I doing here?”

Let isolation and solitude
sleep in the arms of love,
while I weep verses of sorrow and blame.

I guess I’m just too young for that.

I need more time to perceive myself.
I need more time to perceive
I need more time.

I know them already. I feel I know.

I don’t know…

Let isolation and solitude sleep.

While my dreams come true,
reckless visions of my love
will turn out to be deaf, blind
and fucked up.

Suicídio

Face cor de
sangue escorre
pela parede de gritos.

ossos se partem.
miséria rompe
a cabeça que se vai

Cordas envolvem.
pescoço não se vira.
mensagens aflitas
não o fazem dobrar.

Corpo balança.
se inclina para a luz.
corda se parte.
o corpo cai.

lágrimas de sangue
escorrem dos olhos
à boca quieta

tudo parece fluir
agora que está
perdido na treva.

Espectro

Pertencia a mim, como espectros, os espaços
do vasto coração, onde choro
os mesmos carinhos, poemas e abraços
de tua doce face, que adoro.

Foi-se de mim, esvaiu-se de meus braços,
perdeu-se no descontentamento
do poeta triste, mórbido, vão e escasso,
que também se vai ao falecimento.

Vi o Amor – mas somente através do tormento,
da miséria flux e de minha triste retidão,
envolta nas sombras de um coração lamacento.

E, se o tive, além do olhar luminoso, em vão,
o perdi, esqueci, e sofri pelo nobre pensamento
da destroçada, infinda e angustiante solidão.

Sarau

Onde o mar é arenito?
Regado de chuva e lágrimas salobres,
ex-votos e dedicatórias vazias,
tua face coberta de escarro e muco.
O amor se viu sem ver e se foi sem palavras,
inefáveis momentos de versos ocos,
rimas gastas inventando línguas.

Já não se nasce poeta, 
o tempo é temporal para o artista
e os pequenos transeuntes ainda se aplaudem
sem entender uma palavra sequer.

Crescimento

Durante as lágrimas, os medos, as agonias,
os olhos vermelhos de sal à fronte revelam o sofrimento caricato do eu-poeta.
Escalo e me esqueço dos rochedos de meu pétreo coração,
por onde perambulei meus versos revelhos e doces sonhos de criança.
Contemplo meu mundo, os paradigmas de minha cidade, repleta e rodeada 
de formigas e formigueiros,
de poucos ninhos e inúmeras gaiolas,
de densos amores fracassados,
se condensando às minhas histórias recapituladas.
Caminhos cruzados por víboras pulsantes, castelos de areia despedaçados à orla de meus olhos solitários…
Pisaram em meus olhares, vomitaram e escarraram em minhas vozes.
Opto pela escrita, pois aqui ninguém atinge a calma aparente, a quietude das coisas, o sofrimento e tino do eu-poeta…
Somente o próprio e a extinção degradante do mundo que me cerca ao entrar em conflito com meu universo, que me consome.

Quando a mão solitária toca a carne

Quando a mão solitária
toca a carne;
quando corpos estremecidos
resplandecem juntos,
não há escuridão que apague 
os devaneios do amor.
Apesar dos males da beleza,
da convivência e de meu coração, cruamente revirado,
gosto de ver seu sorriso distraído refletindo meus olhos de incerteza e paixão.
Gosto de ver você, simplesmente, em seus vidros cristalinos repletos de perfumes e fragrâncias, que só sentimos ao estar com você.
Gosto de apreciar sua arte, de poetizar seus problemas e conversar sobre qualquer coisa, partindo sempre, cada vez e agora, dos mais doces e singelos sentimentos.
Ainda, não sou suficiente…
Poderia ser muito mais…
Porém, basta a mim ter seu amor para que eu mesmo comece a amar todo o amor do mundo.