Aos poetas

olhos de enigma
são labirintos para 
os meus, perdidos.
sua boca, cerrada,
como duas portas,
escondem poemas
e versos esparsos
que deveriam ser
ditos sem medo e
acalorados pela
tentação de dizer
o mundo com 
poucas palavras.
seu corpo ferve
de tanto sofrer
com tantas e
tamanhas memórias,
vivas, presentes
e histórias, apenas
para os outros.
seu coração arde
em chamas de paixão
não compreendida,
e paixão pela dor,
e paixão pelo calor
do próprio coração.
mas somos doentes.
somos sozinhos
mesmo acompanhados.
seu coração pulsa
sem força e com medo.
medo de dizer o mundo.
medo de ser o mundo.
medo de ser alguém.
seu coração descarrila
e volta aos trilhos,
e anda
e solta sua fumaça
para os outros.
mas trens só olham
 para frente,
para onde vão,
jamais para onde ficam.
e a fumaça fica,
e os vagões ficam.
e tudo que resta
é o toque aos outros.
o seu, o meu, de todos.

Desfaleço, hipocondríaco, em minha mórbida mente,
que não me toca ou comove
como, eloquentemente, faz com que me transforme
num simples poeta de cunho doente.

E a miséria que a mim proporciono
só pertence a mim, sozinho,
pois nela melancolicamente estaciono
e jazo sem amor e amor ao carinho.

Triste, minha depressão me consome,
submissa a meu lado demoníaco,
que tanto fez para adquirir renome.

Desesperado, desfaleço hipocondríaco…
e, se já nem tenho ânsia ou fome,
que adormeça na presença de amoníaco.

O garoto

quero ser o garoto
que dedilha grades
ao andar na rua
discursando em sua mente
a seus amigos imaginários.

quero ser o garoto
que fala onomatopeias
e brinca, e corre, e pula
e nem mesmo sai de sua cabeça.

quero ser o garoto sem nome,
que todos conhecem e adoram;
que apaixona e encoraja
que inspira e poetiza
sua solidão inerente.

Soteriophobia

Não quero que dependa de mim
assim como não quero depender.
Temo a distância e abandono;
Temo a aproximação e carência.

Quero mas não quero ter alguém
preciso mas não quero,
e quero… não quero.

Preciso estar no controle de qualquer relação
e de mim mesmo e nem sei a causa disso.

Preciso preciso impreciso imperfeito

somos todos iguais e desiguais ao mesmo tempo.

Mas e daí? Jamais me acostumarei.

Não quero ajuda!
Não quero companhia!

Estou bem nesta solidão aguda

Estou bem, obrigado.
Não preciso de algo mais.

Estou bem na condição de sozinho.

One for Celeste

to Celeste Mae

Sometimes, walking and crossing streets, we meet someone.
Sometimes someone shouts something interesting
and the will to meet each other starts developing.
Sometimes we make friends. Sometimes we don’t.
Who knows what future plans for us?
Who knows how long it will last?
Sometimes we don’t have to cross the streets
nor even walk.
Sometimes we don’t have to shout or say something.
Sometimes we only need some time
to learn and teach
in both virtual languages.
Sometimes we make friends.
But only sometimes.
Hope it is mine.
Hope my poetry touches
and teaches… sometimes.

Introspectivo

durante este tempo de insanidade,
tudo que me resta é tentar pensar
em algo que faça clarear a chama
da fosca, turva e sinuosa realidade
que está deveras longe de meu eu
introspectivo e demais desesperado.

durante este tempo de insanidade,
tudo que me resta é tentar sonhar
em algo que me faça realçar uma
faísca de poesia nesta mente
fragilizada e heroicamente nua.

é a aura da loucura num corpo
pobre de poeta mal compreendido
e amado.

é a tristeza por existir
numa morte próxima de final
desconsertado.

é a lágrima que escorre em reta,
mas descarrila enfim.

é a dor que exala e escorre sobre mim.

Eu

no porão,
com uma vela
acesa
num pequeno
prato
de cerâmica
branca,
sentei-me sozinho
à espera de algo.

somente os quadros
protegidos
por panos claros
e gaiolas
de pássaros
que se foram havia muito,
e o vento que batia
na janela com
armadura de madeira,
e as memórias de tempos
que nunca vivi

me acompanharam
enquanto lia um livro
de mistérios
e onirismo
cheio de reviravoltas
e digressões.

um livro sem páginas
um livro sem capa…
um livro pessoal
e de ordem introspectiva.

Concretamente esperançoso


     noramente
                        norte
                                  morte
                                            some
                                            ao
                                            som
                                     do
                           ‘este
                     
                             norte
                                    leste
                                           sul
                                                    da
                                          fac’
                                                    e  
                                                           mente
                                               
                                                       céu
                                                                  azul

Por dias melhores

Há uma nuvem de esperança
que ronda a cabeça
dos desesperados
– pelados por dentro
e mentalmente danificados.

Ela se ergue por cima das vias
de suas mentes
e inconscientemente faíscam
uma veia de lucidez.

O mal irá embora.

Who Am I?

Who was she
and who was me?

What have we been doing to each other
since our love started fading away?

I suffer.
She suffers.

Who is she?
Who do I love?
Who am I?
Who does she love?

What did I turned into?
Why so many questions?

So much pain…
so much stress
and sadness
all around…

Where is my mind going?
Where is my love going?

I feel so alone…
something inside of me is dying…

something is going away.

Who was she?
Who is she?

Who am I?
Who was me?

ao som de Led Zeppelin

ela veio falar comigo
disse que eu estava com fome
assenti
e fui escrever um poema
Bonzo’s Montreux
tocando no rádio de pilha
e já nem aguentava tantas batidas
inovação era a palavra
escrita no prato
quando fui comer
alguma coisa que me agradou.

Hey Hey What Can I Do
senão comer?

ela voltou e disse algo
não ouvi
pois estava pensando em outrem
e outrem pensava em mim
sem pensar
ou fazer questão de pensar.

Escrevi outro poema num poema
e a palavra inovação não estava ali
era um poema problemático-problema
que parecia aparição de algo que comi.

ela voltou e disse que deveria sair
porque já não aguentava Led Zeppelin
tocando a tarde toda
sem Coda ou Chorus 
somente o agudinho do Bob Planta.

Escrevi outro poema
dez num dia
fenômeno!
e a palavra inovação me escapou
desliguei o radinho
e dormi um sono inquieto.