transtorno

lar inquieto, unido à orla da extrema secura,
condensa a fala nos limites de toda cesura.
banha-se de vida, perde-se em sua dureza,
reduzem-me ao nome, me alentam tristeza.

ainda vislumbro novas margens, portos e mares…
sem a esperança do amor de meus próprios pares.
obrigam-me a navegar sem rumo em sua direção,
mas neste retorno há naufrágios, medo e solidão.

afogo-me em afetos tormentosos de espírito enganador
tentando demonstrar, sutis, um amor que não é amor.
minha nau estufa velas, mas não há ventania que a mova.
o que querem, afinal? que eu viva? que sofra? que morra?

o que eu sou, fui. e jamais pensei em desistir de mim
para desagradar seres que se bastam ao fim…
pois o peito heroico prevalece quando a luta fenece:

expedirei-me, fraco e endoidecido, porém vitorioso e engrandecido.

alívio

sorrio e aceno beijos aos abandonados.
de escuro em escuro, dreno a dor da trajetória
dos que desejam partir, a fazer sua glória,
com o atraente explorar do inexplorado.

espalham-se por toda a terra, e fenecem,
– não antes de sorverem melancolia:
solitários imperadores, conquistam, fria,
a vida que vivem – mas jamais nela permanecem.

ressentir e pesar se afloram! sofrem! choram!
não desistem do que talvez possam se orgulhar.
desumanizam até mesmo o ato de humanizar…
a troco de palavras que alheios universos adoram.

e para os que ficam, pela solidão corrompido,
transformo os nomes cicatrizados em história.
assim, eternizo o pensamento e deixo a memória
cuidar de quem só deseja ter o esquecer esquecido.